14/05/2016

PEDRO CASALDÁLIGA"

DESCALÇO SOBRE A TERRA VERMELHA


Descalço sobre a Terra Vermelha narra a saga do bispo emérito de São Félix do Araguaia-MS, Pedro Casaldàliga, ao chegar no Araguaia-MT em 1968. O religioso se posicionou ao lado dos desfavorecidos na luta pela posse da tera, enfrentando fazendeiros, a ditadura e até mesmo o Vaticano.


Dividida em três capítulos de 52 minutos e exibida pela primeira vez no pais, a obra dirigida pelo cineasta Oriol Ferrer é resultado da coprodução entre a TVC, a TVE, a TV Brasil, a brasileira Raiz Produções e a Minoria Absoluta, produtora espanhola. A película também foi premiada na Ásia, no Festival de Seul, e pelo New York International TV & Film Awards. A minissérie é baseada na obra homônima de autoria do escritor Francesc Escribano.


Parte 1:
Casaldáliga explica ao futuro Papa Bento XVI os problemas da região do Mato Grosso
http://tvbrasil.ebc.com.br/descalcosobreaterravermelha/episodio/do-vaticano-ao-araguaia#media-youtube-1


Parte 2: 
Bispo lança manifesto pelos indígenas e contra a exclusão social
http://tvbrasil.ebc.com.br/descalcosobreaterravermelha/episodio/por-uma-igreja-da-amazonia#media-youtube-1 


Parte 3: 
Bispo precisa enfrentar fazendeiros e o Exército
http://tvbrasil.ebc.com.br/descalcosobreaterravermelha/episodio/ameaca-de-morte#media-youtube-1 


Pedro Casaldáliga nasceu na província de Barcelona, em 16 de fevereiro de 1928, e vive no Brasil até hoje. Aos 86 anos, luta contra o Mal de Parkinson e deu carta branca aos produtores para a realização do filme. Na pré-estreia da obra em São Félix do Araguaia -MT, onde mas de mil pessoas participaram como figurantes, destacou o receio de ser retratado como protagonista das lutas da região, ressaltando que as conquistas foram resultado da luta e da caminhada de muitos.


Elenco: Eduard Fernández Sergi López Babu Santana Eduardo Magalhães


Classificação indicativa: 14 anos


http://tvbrasil.ebc.com.br/descalcosobreaterravermelha/


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SANTO PEDRO


Por Selvino Heck


Não sei se terei palavras suficientes nem capacidade de traduzir o que vivi/vivemos e o que senti/sentimos nos dias 2 e 3 de dezembro de 2014 em São Félix do Araguaia, Mato Grosso. Foi a primeira exibição do filme Descalço sobre a Terra Vermelha no Centro Comunitário da Prelazia, sobre a vida, a luta, o compromisso evangélico de Dom Pedro Casaldáliga, com a presença de centenas de pessoas e a presença do próprio Pedro.


O filme (que vai ser exibido dias 13, 20 e 27 de dezembro na TV Brasil, às 22h30) começa com a visita 'ad limina' de Pedro, bispo, ao Vaticano em 8 de junho de 1988, onde é recebido pelo então cardeal Ratzinger, depois papa Bento XVI. Na entrada do imponente prédio de imensos corredores, pedem-lhe que se vista adequadamente, isto é, batina preta, tire as sandálias e ponha sapatos. Ratzinger comenta os belos sapatos usados por Pedro. Pedro responde: "São presentes de Fidel." E seguem os questionamentos sobre sua atuação em São Félix, a defesa dos pobres e oprimidos, no caso os peões das fazendas, os índios e as prostitutas, jovens, mulheres, a Teologia da Libertação, seus textos, livros e poemas.


O filme vai contando a história de Pedro, desde sua chegada ao Brasil em 30 de julho de 1968, com 40 anos. Diz o barqueiro Josué, que leva Pedro e seu parceiro Daniel pelo rio Araguaia até sua futura casa: "Aqui é o fim do mundo. Vocês não têm ideia de onde estão se metendo." E pergunta a Pedro, que tem caneta e caderno na mão: "Como está escrevendo aqui?" Pedro diz: "É fácil ser poeta numa lindeza dessas como esse rio."


Pedro vai conhecendo a realidade dura de São Félix e região: os peões escravos, a morte rondando todos e todas e acontecendo por qualquer banalidade, a injustiça, a violência contra a mulher, o medo do povo ante o poder estabelecido, a aliança da ditadura com o latifúndio e os políticos, o desprezo com a vida, a pobreza, as vacilações da Igreja católica.


Pedro, na convivência com os pobres, com os eterna e historicamente rejeitados e excluídos, os sem vez e sem voz, com os que ocupam a terra para poderem plantar e viver, descobre a resistência popular, enfrenta os poderosos, começa a ser perseguido, é ameaçado de morte, assim como quem trabalha com ele. Alguns são assassinados, como os padres Jentel, João Bosco e lideranças de posseiros, outros são presos e torturados.


Falou D. Adriano, atual bispo, antes da exibição do filme: "Um povo sem história e sem memória não pode escrever o futuro. É preciso saber quais foram as lutas, os caminhos trilhados, as esperanças. É uma saga a ser conhecida, celebrada por todos os que moram em São Félix e no Vale do Araguaia."


Escrevi mensagem para os membros do Movimento Nacional Fé e Política: "Foi lindo, compas, foi lindo: primeira exibição do filme da história de Pedro no Centro Comunitário da Prelazia de São Félix. Ele, que ficaria só uma hora, resistiu a quase três horas de exibição e cumprimentou todo mundo no final. E uma coincidência incrível. O Moura, do qual tanto falamos no Seminário do Movimento no final de semana, aparece no filme como um guri jovem e cheio de ideais. Perguntei ao Paco, o roteirista catalão do filme, no jantar após a exibição, se o Moura do filme era o Moura que eu conhecera como deputado estadual constituinte goiano, fundador do Movimento Fé e Política e de quem eu falara com saudade sábado e domingo. Era."

Matéria da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), coprodutora do filme através da TV Brasil, conta: "Olhos atentos. Ninguém queria perder nenhuma das cenas. Na plateia, pessoas de todas as idades acompanhavam a narrativa. A estudante Nágila Oliveira falou emocionada sobre o filme que tinha acabado de assistir e a importância do registro para as futuras gerações: "Guardei um monte de lágrimas em muitas horas. Deu para conhecer muito bem a luta dele, que vai continuar por meio desse filme, porque ela não acabou." Dom Pedro Casaldáliga ficou no centro comunitário até o fim da exibição. Em conversa com a equipe da EBC, o bispo, que tem dificuldade pra falar devido ao mal de Parkison, disse que tinha receio de ser retratado como protagonista da luta de São Félix e ressaltou que as conquistas foram resultado da luta e da caminhada de muitos."


Dia seguinte à exibição, a comitiva – Secretaria Geral da Presidência, produtores do filme, equipe da EBC, Pe. Ernani Pinheiro, da CNBB, todos lamentando a ausência do ministro Gilberto Carvalho -, reunimo-nos cheios de emoção na casa de Pedro, casa comum numa rua de terra de São Félix. E, celebrando a vida e o encontro, rezamos a Oração de São Francisco, a mensagem evangélica da multiplicação de pães e peixes, um salmo.

No final, Pedro, o bispo emérito, D. Adriano, o bispo legítimo e o bispo do filme, os três bispos como diz Pedro, nos abençoaram. Termino, emocionado, esta minha (quase) oração com o poema Nossa Senhora do Araguaia, de Pedro: "Senhora do Araguaia,/comadre do dia a dia,/ senhora libertadora,/ mui servidora Maria./ Passarinha da ternura/nas muitas águas da vida,/ enche de Reino a História,/ e o rio, de poesia."


Não erro nem exagero quando escrevo Santo Pedro. E faço a saudação final com as últimas palavras da Oração dos Mártires da Caminhada Latino-americana, de Pedro: "Amém, Axé, Awiri, Aleluia!".


Selvino Heck é Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República, Membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política.


7/dez/2014, 8h30min


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