29/04/2015

nesta quarta, dia 29, às 23h



DESCALÇO SOBRE A TERRA VERMELHA
29 de abril, às 23h,TV Brasil

A minissérie "Descalço sobre a Terra Vermelha" narra a saga do bispo emérito de São Félix do Araguaia-MS, Pedro Casaldàliga, ao chegar no Araguaia-MT em 1968. O religioso se posicionou ao lado dos desfavorecidos na luta pela posse da terra, enfrentando fazendeiros, a ditadura e até mesmo o Vaticano. A série será exibida a partir desta quarta-feira, dia 29 de abril, às 23h, pela TV Brasil (também pela TVE RS).

Dividida em três capítulos de 52 minutos, a obra dirigida pelo cineasta Oriol Ferrer é resultado da coprodução entre a TVC, a TVE Espanha, a TV Brasil, a brasileira Raiz Produções e a Minoria Absoluta, produtora espanhola. A película também foi premiada na Ásia, no Festival de Seul, e pelo New York International TV & Film Awards. A minissérie é baseada na obra homônima de autoria do escritor Francesc Escribano.

Pedro Casaldáliga nasceu na província de Barcelona, em 16 de fevereiro de 1928, e vive no Brasil até hoje. Na pré-estreia da obra em São Félix do Araguaia -MT, onde mas de mil pessoas participaram como figurantes, destacou o receio de ser retratado como protagonista das lutas da região, ressaltando que as conquistas foram resultado da luta e da caminhada de muitos.

Elenco: Eduard Fernández, Sergi López, Babu Santana, Eduardo Magalhães. Classificação indicativa: 14 anos

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7/dez/2014, 8h30min

Santo Pedro

Por Selvino Heck

Não sei se terei palavras suficientes nem capacidade de traduzir o que vivi/vivemos e o que senti/sentimos nos dias 2 e 3 de dezembro de 2014 em São Félix do Araguaia, Mato Grosso. Foi a primeira exibição do filme Descalço sobre a Terra Vermelha no Centro Comunitário da Prelazia, sobre a vida, a luta, o compromisso evangélico de Dom Pedro Casaldáliga, com a presença de centenas de pessoas e a presença do próprio Pedro.

O filme (que vai ser exibido dias 13, 20 e 27 de dezembro na TV Brasil, às 22h30) começa com a visita 'ad limina' de Pedro, bispo, ao Vaticano em 8 de junho de 1988, onde é recebido pelo então cardeal Ratzinger, depois papa Bento XVI. Na entrada do imponente prédio de imensos corredores, pedem-lhe que se vista adequadamente, isto é, batina preta, tire as sandálias e ponha sapatos. Ratzinger comenta os belos sapatos usados por Pedro. Pedro responde: "São presentes de Fidel." E seguem os questionamentos sobre sua atuação em São Félix, a defesa dos pobres e oprimidos, no caso os peões das fazendas, os índios e as prostitutas, jovens, mulheres, a Teologia da Libertação, seus textos, livros e poemas.

O filme vai contando a história de Pedro, desde sua chegada ao Brasil em 30 de julho de 1968, com 40 anos. Diz o barqueiro Josué, que leva Pedro e seu parceiro Daniel pelo rio Araguaia até sua futura casa: "Aqui é o fim do mundo. Vocês não têm ideia de onde estão se metendo." E pergunta a Pedro, que tem caneta e caderno na mão: "Como está escrevendo aqui?" Pedro diz: "É fácil ser poeta numa lindeza dessas como esse rio."

Pedro vai conhecendo a realidade dura de São Félix e região: os peões escravos, a morte rondando todos e todas e acontecendo por qualquer banalidade, a injustiça, a violência contra a mulher, o medo do povo ante o poder estabelecido, a aliança da ditadura com o latifúndio e os políticos, o desprezo com a vida, a pobreza, as vacilações da Igreja católica.

Pedro, na convivência com os pobres, com os eterna e historicamente rejeitados e excluídos, os sem vez e sem voz, com os que ocupam a terra para poderem plantar e viver, descobre a resistência popular, enfrenta os poderosos, começa a ser perseguido, é ameaçado de morte, assim como quem trabalha com ele. Alguns são assassinados, como os padres Jentel, João Bosco e lideranças de posseiros, outros são presos e torturados.

Falou D. Adriano, atual bispo, antes da exibição do filme: "Um povo sem história e sem memória não pode escrever o futuro. É preciso saber quais foram as lutas, os caminhos trilhados, as esperanças. É uma saga a ser conhecida, celebrada por todos os que moram em São Félix e no Vale do Araguaia."

Escrevi mensagem para os membros do Movimento Nacional Fé e Política: "Foi lindo, compas, foi lindo: primeira exibição do filme da história de Pedro no Centro Comunitário da Prelazia de São Félix. Ele, que ficaria só uma hora, resistiu a quase três horas de exibição e cumprimentou todo mundo no final. E uma coincidência incrível. O Moura, do qual tanto falamos no Seminário do Movimento no final de semana, aparece no filme como um guri jovem e cheio de ideais. Perguntei ao Paco, o roteirista catalão do filme, no jantar após a exibição, se o Moura do filme era o Moura que eu conhecera como deputado estadual constituinte goiano, fundador do Movimento Fé e Política e de quem eu falara com saudade sábado e domingo. Era."

Matéria da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), coprodutora do filme através da TV Brasil, conta: "Olhos atentos. Ninguém queria perder nenhuma das cenas. Na plateia, pessoas de todas as idades acompanhavam a narrativa. A estudante Nágila Oliveira falou emocionada sobre o filme que tinha acabado de assistir e a importância do registro para as futuras gerações: "Guardei um monte de lágrimas em muitas horas. Deu para conhecer muito bem a luta dele, que vai continuar por meio desse filme, porque ela não acabou." Dom Pedro Casaldáliga ficou no centro comunitário até o fim da exibição. Em conversa com a equipe da EBC, o bispo, que tem dificuldade pra falar devido ao mal de Parkison, disse que tinha receio de ser retratado como protagonista da luta de São Félix e ressaltou que as conquistas foram resultado da luta e da caminhada de muitos."

Dia seguinte à exibição, a comitiva – Secretaria Geral da Presidência, produtores do filme, equipe da EBC, Pe. Ernani Pinheiro, da CNBB, todos lamentando a ausência do ministro Gilberto Carvalho -, reunimo-nos cheios de emoção na casa de Pedro, casa comum numa rua de terra de São Félix. E, celebrando a vida e o encontro, rezamos a Oração de São Francisco, a mensagem evangélica da multiplicação de pães e peixes, um salmo.

No final, Pedro, o bispo emérito, D. Adriano, o bispo legítimo e o bispo do filme, os três bispos como diz Pedro, nos abençoaram. Termino, emocionado, esta minha (quase) oração com o poema Nossa Senhora do Araguaia, de Pedro: "Senhora do Araguaia,/comadre do dia a dia,/ senhora libertadora,/ mui servidora Maria./ Passarinha da ternura/nas muitas águas da vida,/ enche de Reino a História,/ e o rio, de poesia."

Não erro nem exagero quando escrevo Santo Pedro. E faço a saudação final com as últimas palavras da Oração dos Mártires da Caminhada Latino-americana, de Pedro: "Amém, Axé, Awiri, Aleluia!".

Selvino Heck é Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República, Membro da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política.

http://www.sul21.com.br/jornal/santo-pedro/

28/04/2015

3ª etapa - 16-17 maio


Curso da Escola de Formação Fé, Política e Trabalho 2015.ano12

Unisinos + Diocese de Caxias do Sul + Cáritas Caxias



3ª etapa - 16-17 maio
Visão histórica dos projetos de nação brasileira a partir de 1930.
Profa. Dra. Eloísa Capovilla da Luz Ramos - Unisinos

Importante:

Trazer copo ou garrafa para água (em razão do cuidado com o ambiente, não há copos descartáveis disponíveis).


Horário:

Sábado: das 8h30 às 19h. Domingo: das 8h30 às 13h.

Sábado à noite: estão previstas atividades (opcional). 


Hospedagem (opcional):

Centro Diocesano de Formação Pastoral.

Trazer roupa de cama (lençol e fronha) e toalhas; além de materiais de higiene e uso pessoal.


Investimento:

O valor cobrado inclui hospedagem, refeições e materiais.  O valor é cobrado, independente da presença.


Informações:

http://goo.gl/Xmzkjk

fepoliticaetrabalho@gmail.com
http://fepoliticaetrabalho.blogspot.com.br/
Facebook: Escola Fé, Política e Trabalho
https://twitter.com/fepoliticaetrab

14/04/2015

Günter Grass e Eduardo Galeano vão para os eternos campos de caça

Günter Grass e Eduardo Galeano vão para os eternos campos de caça

Publicado em 14/04/2015

Flávio Aguiar_GunterGaleanoPor Flávio Aguiar.

Novamente o noticiário me leva, nestas crônicas, para longe do reino da cozinha. Saio dele para ir, desta vez, à biblioteca.

Percorro os volumes silenciosos. Eles hoje, 14 de abril de 2015, me parecem mais silenciosos do que de costume.

Livros choram?

Sim, choram. Também há momentos em que riem, outros em que ficam sisudos, pensativos, outros tem coceiras se acariciados, ainda outros fazem sexo conosco quando os apalpamos e cheiramos.

Há livros carrancudos, cheios de ódio: Minha luta, Mein Kampf, por exemplo. Outros há cheios de paixões tumultuadas, como Narciso e Golmund, de Herman Hesse.

Mas nesta minha biblioteca há alguns livros mais silenciosos do que outros.

Recolho um deles. É O tambor, de Günter Grass (em alemão Die Blechtrommel,"O tambor de lata"). Dele me sai esta preciosidade:

"Até mesmo os maus livros são livros e, portanto, são sagrados".

Pego outro, igualmente cabisbaixo. É uma edição em espanhol, Diario de um Caracol, do mesmo Günter Grass, e leio, traduzindo em voz baixa para não perturbar demasiado o silêncio desta biblioteca:

"A melancolia deixou de ser um fenômeno individual, uma exceção. Transformou-se num privilégio de classe do trabalhador assalariado, um estado mental de massas, que se instala onde quer que a vida seja governada por índices de produtividade".

E:

"Se o trabalho e o lazer logo se tornarem subordinados ao princípio utópico do absoluto negócio, então a utopia e a melancolia coincidirão: [veremos] a aurora de uma era sem conflitos, sempre tomada por ocupações – e sem consciência".

Günter Grass era um homem de grande coragem. Demorou, mas confessou de motu próprio ter pertencido, na juventude, à Waffen-SS, o braço militar da odiosa organização nazista. Repudiou-a, depois. Recentemente, em plena Alemanha, publicou um poema criticando o governo de Israel (que muita gente aqui considera "intocável", "incriticável", como se isto existisse) pelo tratamento dispensado aos palestinos. Foi acerbamente atacado, acusaram-no de antissemitismo, coisa que ele rejeitou com veemência – e com razão.

Depois de procurar consolar estes livros acariciando-os, observo logo adiante um outro livro cabisbaixo. Perto dele, não muito longe, um outro livro, este muito grande e pesado, chora perdidamente: é a enciclopédia Latinoamericana. Não sei se ela chora por ter perdido um pai ou um filho, quem sabe um irmão. Mas tomo nas mãos o primeiro: é O livro dos abraços, de Eduardo Galeano. Na sua capa, sempre me saudava, cada vez que eu o fazia sair de seu nicho, um menino alegre tocando um tambor (seria o do Günter Grass?). Mas agora o menino me olha tristonho. Seu tambor está silente. Mas como se fora um convite, ele começa a tocar seu instrumento, naquele toque plangente, ritmado, se juntando ao silêncio das gentes, com que o surdo da escola de samba leva à última morada o passista que morreu.

Mas ouço naquele toque que irrompe na biblioteca transformada em câmara de velas ardentes um convite para abri-lo. E o faço. E leio, logo no primeiro texto:

"O mundo

Um homem da aldeia de Neguá, no litoral da Colômbia, conseguiu subir aos céus.

Quando voltou, contou. Disse que tinha contemplado, lá do alto, a vida humana. E disse que somos um mar de fogueirinhas.

– O mundo é isso – revelou –, um montão de gente, um mar de fogueirinhas.

Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo".

Tive a graça de conhecer Galeano pessoalmente. Entrevistei-o várias vezes na TV Carta Maior, durante os Fóruns Sociais Mundiais. Ele tinha um jeito peculiar de falar. No começo amarrava a cara, como se estivesse de mau humor. Quem sabe estava? Galeano detestava estrelismos, e uma câmera de TV pela frente sempre lembra, de algum modo, esta condição estelar e inoportuna. Mas logo em seguida ele cativava quem o ouvisse não só pelo brilho de seu pensamento, como pelo otimismo cauteloso, nunca panfletário, que emanava de suas palavras. Sua voz de tom medianamente grave infundia serenidade de mistura com o caráter apaixonado, ardente mesmo, de sua relação com a beleza literária e com a busca da justiça social na nossa América Latina de tantas injustiças.

Me veio à lembrança também a imagem de seu irmão de sangue (assim eles se tratavam) e de espírito, o jornalista Marcos Faerman, o Marcão da Faculdade de Direito da UFRGS e das peladas de futebol do Veludo, em Porto Alegre. O Marcão foi a Buenos Aires, onde então Galeano se exilava, entrevista-lo para a o jornal Ex-, um dos alternativos de São Paulo. Lá encantou-se com a revista que Galeano dirigia, Crisis. E o Marcão editou algo parecido no Brasil, a Versus, uma das revistas mais criativas do nosso jornalismo.

Bem que eu notara que um pouco mais adiante da Latinoamericana meus exemplares sobreviventes de Versus Crisis estavam abraçados, compungidos.

Num movimento repentino, sem pensar, abri as janelas da biblioteca, para que a luz violasse aquela penumbra. A manhã berlinense me recebeu com seu gélido hálito habitual. Mas o sol entrou, e logo transformou aqueles silentes livros num enxame de vozes que, como pássaros recém-despertos, homenageassem a vida dos que partiram – há tempos, como o Marcão, ou há pouco, como Grass e Galeano.

A entrada do sol na penumbra que se dissipava me confirmou a assertiva: é impossível se aproximar destas pessoas, destes livros, destas revistas, sem pegar fogo, mesmo que serenamente.

***

Flávio Aguiar nasceu em Porto Alegre (RS), em 1947, e reside atualmente na Alemanha, onde atua como correspondente para publicações brasileiras. Pesquisador e professor de Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, tem mais de trinta livros de crítica literária, ficção e poesia publicados. Ganhou por três vezes o prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro, sendo um deles com o romance Anita (1999), publicado pela Boitempo Editorial. Também pela Boitempo, publicou a coletânea de textos que tematizam a escola e o aprendizado, A escola e a letra (2009), finalista do Prêmio Jabuti, Crônicas do mundo ao revés (2011) e o mais novo A Bíblia segundo Beliel. Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às quintas-feiras.


http://blogdaboitempo.com.br/2015/04/14/gunter-grass-e-eduardo-galeano-vao-para-os-eternos-campos-de-caca/



13/04/2015

"Nacerán y volverán a morir y otra vez nacerán. Y nunca dejarán de nacer, porque la muerte es mentira."




"Nacerán y volverán a morir y otra vez nacerán. Y nunca dejarán de nacer, porque la muerte es mentira."

Adiós y Gracias, Eduardo Galeano. 


Programa Cantos do Sul da Terra sobre EDUARDO GALEANO, neste dia 13 de abril de 2015, na FM Cultura - 107.7 - www.fmcultura.com.br

(o programa inicia aos 7:00 minutos)


Escritor uruguaio Eduardo Galeano morre aos 74 anos

13/abr/2015, 10h23min

Escritor uruguaio Eduardo Galeano morre aos 74 anos

Milton Ribeiro

O escritor uruguaio Eduardo Galeano morreu aos 74 anos em Montevidéu, nesta segunda-feira (13), segundo o site do jornal "El País". Galeano estava internado em um hospital na capital uruguaia desde sexta-feira (10) devido a complicações de um câncer de pulmão, que já havia sido tratado em 2007.

Nascido em Montevidéu no dia 3 de setembro de 1940, Eduardo Galeano começou muito jovem no jornalismo e nos mais variados gêneros literários como o ensaio, a poesia e a narrativa. Ensaísta, historiador e ficcionista, publicou mais de 30 livros, quase todos traduzidos no Brasil. Ele é autor da obra "As veias abertas da América Latina", em que denunciou a opressão e amargura do continente e que foi traduzido para dezenas de idiomas.

No dia 18 de abril de 2009, o presidente Hugo Chávez presenteou seu colega americano, Barack Obama, com o livro As Veias Abertas da América Latina, clássico ensaio do escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano. O exemplar estaria autografado pelo autor. O livro fala basicamente sobre o saque dos recursos naturais sofrido pelo continente latino-americano do século XV até o fim do século XX e é citado frequentemente por Chávez. Tendo iniciado o dia 18 na 54.295ª posição entre os livros mais vendidos da megavendedora de livros Amazon, o livro amanheceu o dia 19 em 2º lugar. Atualmente, a avaliação dos leitores da Amazon demonstra uma curiosidade. Dos 163 leitores que escreveram resenhas a respeito da obra, 86 dão-lhe nota 5, a máxima, enquanto 50 dão-lhe a nota mínima, 1. Dos 163, somente 27 não lhe dão as notas extremas.

Tais avaliações não chegam a ser surpreendentes. Afinal, As Veias Abertas não parece prestar-se a opiniões desapaixonadas. A direita costuma chamá-lo de um "anacrônico clássico da literatura esquerdista do continente",o qual questiona o imperialismo americano e europeu na região. Já a esquerda:

Depois do golpe de 1973 não pude levar muita coisa comigo: algumas roupas, fotos da família, um saquinho com barro do meu jardim e dois livros: uma velha edição de Odes, de Pablo Neruda, e o livro de capa amarela, As Veias Abertas da América Latina.

Isabel Allende, no prefácio da edição chilena

Escritor foi um dos responsáveis pela fundação de três jornais: Marcha, Crisis e Brecha.

Biografia

Eduardo Galeano nasceu em Montevidéu em 3 de setembro de 1940. Começou sua carreira de jornalista no início dos anos 60, como editor do "Marcha", um influente jornal semanal que tinha como colaboradores Mario Benedetti, Mario Vargas Llosa, Manuel Maldonado e Denis Fernández Retamar.

Durante o golpe de 27 de junho de 1973, Galeano foi preso e forçado a deixar o Uruguai. Foi para a Argentina, onde fundou a revista cultural "Crisis". Em 1976, após seu livro As Veias Abertas da América Latina ser censurado pelos governos militares do Uruguai, Argentina e Chile, teve seu nome colocado na lista dos esquadrões da morte de Videla e, temendo por sua vida, exilou-se na Espanha, onde deu início à trilogia Memória do Fogo.

No início de 1985, retornou a Montevidéu. Em outubro do mesmo ano, juntamente com Mario Benedetti, Hugo Alfaro e outros jornalistas e escritores que haviam pertencido ao semanário "Marcha", fundou o semanário "Brecha", no qual segue até hoje como membro do Conselho Consultivo. Em 2010, a Brecha instituiu o prêmio Memória do Fogo, entregue anualmente a um artista a cujos talentos se somem a luta pelos direitos humanos e sociais. O primeiro vencedor foi o cantor espanhol Joan Manuel Serrat, que o recebeu a 16 de dezembro de 2010 no Teatro Solís em Montevidéu.

Em 2007, recuperou-se de uma operação de câncer de pulmão, mas este retornara recentemente.

Escritos que combinam ficção, jornalismo, análise política e história.

Galeano tem mais de 30 livros publicados e, se pudéssemos caracterizá-los através de uma frase, talvez desta devesse constar o convite que o autor nos faz para olhar simultaneamente o passado e o futuro. Suas obras também buscam estabelecer uma frente comum contra a miséria moral e material do continente. Há um risco demagógico e piegas neste tipo de proposta, mas Galeano salva-se disto com um texto limpo e objetivo, às vezes duro. Com o tempo, amenizou seu estilo, chegando com naturalidade à prosa poética e mesmo à poesia. Seu projeto de refletir o drama da América Latina é abertamente de esquerda e, ao longo dos anos, o autor manteve um compromisso contínuo com suas ideias, rejeitando uma existência sem utopias.

Seus escritos combinam ficção, jornalismo, análise política e história. Ao lado de As Veias Abertas da América Latina, talvez seus livros mais importantes sejam a trilogia Memória do Fogo, dividida em Os Nascimentos (1982), As Caras e a Máscaras (1984) e O Século do Vento (1986). Trata-se de uma ousada e inclassificável mistura de gêneros unidas por onipresente espírito crítico. Os personagens são generais, artistas, revolucionários e operários, os quais são retratados em pequenos episódios que começam nos mitos dos povos pré-colombianos chegando até a década de 80 do século XX.


Como fã de futebol e hincha do Nacional de Montevidéu, Galeano escreveu O futebol ao sol e à sombra (1995), onde revisa a história do esporte. Sua paixão pelo jogo supera a paixão por uma camisa. O autor traça comparações com o teatro e a guerra, critica a presença das grandes corporações, de um lado, e, por outro, ataca sem tréguas os intelectuais de esquerda que rejeitam o jogo por motivos ideológicos. O formato escolhido é o da crônica, mas uma crônica de poesia derramada de paixão pelo futebol. "Aos descendentes dos rituais astecas, aos filhos do tango, do samba e da capoeira, da sombra da miséria e do sol dos sonhos de glória": é a estes, a sua tradição de virtuosismo e a seus cultores, em todo o mundo e ao longo dos tempos, que o autor presta homenagem. Mas…

Como todos os meninos uruguaios, eu também quis ser jogador de futebol. Jogava muito bem, era uma maravilha, mas só de noite, enquanto dormia: de dia era o pior perna-de-pau que já passou pelos campos do meu país. (…) Os anos se passaram, e com o tempo acabei assumindo minha identidade: não passo de um mendigo do bom futebol. Ando pelo mundo de chapéu na mão, e nos estádios suplico: – Uma linda jogada, pelo amor de Deus! E quando acontece o bom futebol, agradeço o milagre — sem me importar com o clube ou o país que o oferece.



A nova tradução, por Sergio Faraco

Há quatro anos, a L&PM lançou uma nova tradução de As Veias Abertas da América Latina. O tradutor, a pedido do próprio autor, foi Sergio Faraco. "Fiz a tradução a pedido de Galeano e acompanhado por ele. Enviava diariamente e-mails com minhas dúvidas, os quais eram respondidos imediatamente. Demorei 3 meses para terminar as quase 400 páginas. A maior dificuldade não foi o texto original, foi a comparação com a outra tradução brasileira, de Galeno de Freitas, muito boa, feita em 1971. Era inevitável, acho que tudo ficou muito parecido", conta Faraco.

Galeano elogiou a nova tradução, que teria ficado superior ao original em espanhol. "Minha obra hoje soa melhor em português", disse, referindo-se ao fato de ter não apenas Faraco como tradutor de sua obra, mas também Eric Nepomuceno. Só aqui no Brasil já saíram 52 edições do livro. Faraco completa: "As Veias Abertas é um ensaio com altíssimo grau de informação. É inacreditável que ele tenha feito aquela imensa pesquisa histórica e escrito o livro na idade de aproximadamente 30 anos. O livro retrata uma realidade vergonhosa de surpreendente atualidade em nossos dias, pois nossa miséria e dependência permanecem. É curioso que alguns chamam o livro de anacrônico. Apesar de ter sido escrito há 40 anos, ele não tem nada de anacrônico, até porque revela de forma brilhante uma realidade incontestável – a realidade histórica".

O professor do Instituto de Biociências da UFRGS, Paulo Brack, em entrevista à Rádio da UFRGS, rebate enfaticamente as acusações de anacronismo. "Vejam, por exemplo, a questão de Belo Monte. Ela confrontou o Brasil e a Comissão de Direitos Humanos da OEA, que questionou o tratamento que o governo brasileiro está dando ao problema. Também a aprovação do novo Código Florestal na Câmara demonstra a vitória de um sistema que há séculos está enraizado no país. O Código Florestal anterior era uma das legislações mais avançadas do mundo. Agora foi alterada em favor do agronegócio, cujo sistema de produção teve origem nos grandes latifúndios. Ou seja, muita coisa que Galeano fala em seu livro está ainda atual. Apenas mudou a cara de quem faz. Antes, havia a presença militar, agora não mais".

A América latina parece ter-se especializado em prover o desenvolvimento das economias europeia e norte-americana.

Em As Veias Abertas, Galeano apresenta uma análise histórica sobre formação da América Latina desde sua ocupação pelos europeus até os dias de hoje, fundando sua crítica na espoliação econômica, na dilapidação dos recursos naturais do continente e na dominação política, primeiro pela Europa e depois pelos Estados Unidos. A professora de Geografia Ilana Freitas faz uma curiosa constatação. "Durante a ditadura, As Veias Abertas era muito usado por professores de segundo grau de História e Geografia. Eram pessoas que, de forma muito corajosa, preocupavam-se em marcar uma posição de esquerda ou de crítica à ditadura".

Lamento que este livro ainda não tenha perdido a atualidade.

Eduardo Galeano

Sem ser hostil, o jornalista e escritor Juremir Machado da Silva, também em entrevista à Rádio da UFRGS, faz ressalvas ao livro. "Galeano defendia que o fim da dependência da América Latina deveria ser baseado na implantação de modos modos de produção. O livro indica que a solução para a dependência latino-americana seria o socialismo. Este aspecto implícito ou explícito do livro, caducou". Porém, Juremir concorda com Galeano no cerne: "É claro que o Brasil é um vendedor decommodities. Ou seja, vende matéria-prima barata e compra de volta o produto pronto daqueles países que agregam valor a eles. Vende para recomprar a preço maior o produto beneficiado. É uma questão não só de tecnologia, de capital, mas de mentalidade. Hoje, nada nos impede de mudar esta situação, só o fato de existir uma elite que está satisfeita como vendedora de commodities e que não deseja outro tipo de organização sócio-econômica".

"A divisão internacional do trabalho consiste em que uns países se especializam em ganhar e outros em perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: se especializou em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se lançaram através do mar e cravaram-lhe os dentes na garganta. Passaram-se os séculos e a América Latina aperfeiçoou suas funções. Ela já não é o reino das maravilhas em que a realidade superava a fábula e a imaginação era humilhada pelos troféus da conquista, as jazidas de ouro e as montanhas de prata. Mas a região segue trabalhando como serviçal, continua existindo para satisfazer as necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, cobre e carne, frutas e café, matérias-primas e alimentos, destinados aos países ricos que, consumindo-os, ganham muito mais do que a América Latina ganha ao produzi-los."

Parágrafo de abertura de As Veias Abertas da Amérca Latina

Quando nos vamos, eles se vão?

Atualmente, passados 40 anos, talvez a crítica que se possa fazer a Galeano seja a do tom indignado da narrativa, porém isto não anula ou diminui os fatos descritos e não retifica a história, pois é difícil negar que as colônias e nações latino-americanas têm sido, desde o início do século XVI, especialistas em prover o desenvolvimento das economias europeia e norte-americana, com seu consequente fortalecimento político.

Seu último livro Espelhos (2008) consiste em quase 600 histórias breves que, segundo Galeano, proporcionam ao leitor "viajar através de todos os mapas de todos os tempos, sem limites".

Os espelhos estão cheios de gente.
Os invisíveis nos vêem.
Os esquecidos nos lembram.
Quando nos vemos, os vemos.
Quando nos vamos, eles se vão?

Este livro foi escrito para que não partam.
Nestas páginas unem-se o passado e o presente.
Renascem os mortos, os anônimos têm nome:
os homens que ergueram os palácios e os templos de seus amos;
as mulheres, ignoradas por aqueles que ignoram o que temem;
o sul e o oriente do mundo, desprezados por aqueles que
desprezam o que ignoram;
os muitos mundos que o mundo contém e esconde;
os pensadores e os que sentem;
os curiosos, condenados por perguntar, e os rebeldes e
os perdedores e os lindos loucos que foram e são o
sal da terra.


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"El derecho de sonhar, el derecho al delírio..."
por Eduardo Galeano

https://www.youtube.com/watch?v=Z3A9NybYZj8


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Noticias > América Latina 

Fallece el escritor uruguayo 

Eduardo Galeano es considerado uno de los autores más destacados de la literatura latinoamericana
| Foto: teleSUR Previous Next 
Eduardo Galeano Eduardo Galeano es considerado uno de los autores más destacados de la literatura latinoamericana 

Publicado 13 abril 2015

Galeano, autor entre otros de 'Las venas abiertas de América', murió en Montevideo, su ciudad natal. 

El escritor y periodista uruguayo, Eduardo Galeano, falleció este lunes a los 74 años en Montevideo (capital uruguaya), según informó el diario local uruguayo Subrayado. 

La confirmación de la muerte también fue reseñada por el diario español El País y Europa Press. 

Galeano es considerado uno de los más destacados autores de la literatura latinoamericana. Entre sus numerosas obras destacan "Memoria del fuego", "Los días siguientes", "Guatemala, país ocupado", "Su majestad el fútbol", "El fútbol a sol y sombra", "Crónicas latinoamericanas", "La contraseña", "Úselo y tírelo", "Patas arriba. La escuela del mundo al revés" y la universalmente reconocida "Las venas abiertas de América Latina". 

Su obra se distinguió por trascender géneros ortodoxos y combinar documental, ficción, periodismo, análisis político e historia. 

En los años sesenta comenzó su carrera periodística, trabajando como editor en el semanario Marcha y durante dos años en el diario Época. Tras el golpe de estado de 1973, Galeano tuvo que dejar Uruguay y marchó a vivir a Argentina, donde fundó un magacín cultural de nombre Crisis. Cuando volvió a Uruguay, ya en 1985, fundó un semanario llamado Brecha. 

Uno de los episodios más complicados de su vida fue superar el cáncer de pulmón que lo aquejaba y del que salió airoso en 2007. 

Estos días estaba a punto de editarse un nuevo libro del escritor llamado Mujeres, considerado un experimento editorial. 

Aquí un fragmento de la entrevista exclusiva que hizo teleSUR a Galeano en marzo de 2011 "Un abrazo de muchos brazos": https://www.youtube.com/watch?t=234&v=VLoQgT58aeU 

Este contenido ha sido publicado originalmente por teleSUR bajo la siguiente dirección: 
http://www.telesurtv.net/news/Fallece-el-escritor-uruguayo-Eduardo-Galeano-20150413-0012.html