17/07/2011

Escola de Fé, Política e Trabalho – 5ª Etapa

Nos dias 16 e 17 de Julho de 2011 no Centro Diocesano de Formação de Caxias do Sul aconteceu a 5ª etapa da escola de Fé, Política e Trabalho em sua 8ª edição que tem a Coordenação da Cáritas de Caxias do Sul e apoio do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
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O tema proposta para esta etapa foi ‘A crise contemporânea e as metamorfoses no mundo do trabalho’ e contou com a assessoria do professor Dr. André Langer do CEPAT (Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores) com sede em Curitiba – PR.
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Para entendermos o hoje do mundo do trabalho com a globalização e suas conseqüências  fizemos uma retrospectiva a partir da década de 1950 com o surgimento de uma nova sociedade industrial que rompe com a sociedade agrária vigente e tem no modelo fordista, tão bem retratado no filme ‘Tempos Modernos’ de Charles Chaplin, seu padrão estabelecido: empresas fisicamente grandes; a presença do Estado criando e fortalecendo estatais; conquistas de direitos trabalhistas como férias, horas extras, aposentadoria; disciplina de horários fixos; fortalecimento do emprego que é o trabalho (ação humana) com salário e o fazer para os outros; fortalecimento dos sindicatos.
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A partir da década de 1980 passamos por uma TRANSFORMAÇÃO que mudará rapidamente os conceitos estabelecidos até então. Surgindo a globalização que faz com que o capital não tenha mais nacionalidade – fabricam-se tênis de marca X em qualquer parte do mundo; a revolução tecnológica incorpora-se ao ser humano; cresce a financeirização onde um pequeno grupo pode decidir o futuro de um país apenas com um telefonema ou uma notícia plantada nos principais meios de comunicação.
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Passamos, no dizer do André Langer, por uma crise civilizacional onde o mundo do trabalho não cria mais elos entre colegas de trabalho, não existe solidariedade, mas competição entre os trabalhadores. O imaterial, o inatingível assume cada vez mais espaço no mundo; o que vale não é o trabalho humano, mas a marca do produto é preciso ter a patente do produto, ter o conhecimento para ter o poder sobre os outros.  Exige-se cada vez mais conhecimento do trabalhador através de cursos e grupos de estudo dentro das empresas; a flexibilização cria novos turnos e horários, altera as contratações com a terceirização; enfraquece-se o sindicato à medida que cria prêmios individuais nas empresas e com isso perde-se a noção de classe trabalhadora e vive-se apenas da empresa em função do salário e as premiações por metas alcançadas.
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Além de refletirmos sobre todas estas mudanças no mundo do trabalho tivemos também a nossa tradicional festa de confraternização a partir das festas populares de junho e julho onde se destaca a Festa de São João. Piadas, danças, cantoria para descontrair e nos conhecer melhor foram à marca da festa.




A próxima etapa acontece nos dias 20 e 21 de agosto e terá como tema ‘Contexto cultural na pós-modernidade na sociedade capitalista’ com a assessoria do professor Ms. Lucas Henrique da Luz – Unisinos e ‘Bíblia: projeto de uma sociedade sem exclusão’ com o professor Dr. Pedro Kramer – ESTEF – Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana.

Texto: José Antonio Somensi (Zeca)

Fotos: Fernanda Seibel

17 de julho


Neste domingo, dia 17, segue o debate sobre o tema “A crise contemporânea e as metamorfoses no mundo do trabalho”, com a assessoria do professor Dr. André Langer do CEPAT – Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores, de Curitiba – PR.


Fotos: Fernanda Seibel

16/07/2011

CELEBRAÇÃO DA LUZ

PREPARAÇÃO: Material: Bíblia, uma vela pra cada participante e um círio pascal ou velas de sete dias, a sala deve escurecer-se completamente e, no seu centro ou em lugar de destaque, colocar o círio, definir um celebrante e três leitores.

INTRODUÇÃO: Divide-se  a assembléia em seis grupos. Cada grupo corresponde a um dia da criação, que tentará vivenciar, ao máximo, a sua criação, o seu nascimento e  aparecimento no mundo e no universo.

AMBIENTAÇÃO:  A sala deve estar escura e somente o círio deve estar aceso. As outras velas  vão ascendendo ou apagando conforme a leitura de Gênesis ou do antigênesis. Cada participante deverá estar na sala já com sua vela e sabendo o seu dia.


RITO DA LUZ

Celebrante: Iniciamos nossa celebração sabendo que Deus é comunidade e, por isso, nos reúne em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Cada um de nós representa um  dia da criação. Mergulhemos nesta maravilha de sermos criado no amor de Deus. À medida que forem lidos os dias da criação, as pessoas de número do dia mencionado aproximar-se-ão do círio e ascenderão as suas velas. Essa luz representa a luz que  é Jesus Cristo.

Leitor 1 – Leitura do Gênesis (GN 1).
(Leitura pausada, devagar, fazendo pausas depois de cada dia da criação, permitindo que as pessoas ascendam suas velas).

1 – Quando Deus iniciou a criação do céu e da terra, a terra era deserta e vazia e havia treva na superfície do abismo, o sopro de Deus pairava na superfície das águas, e DEUS DISSE: “Que a luz seja”.  E a luz veio a ser. Deus viu que  a luz era boa. Deus separou a luz da treva. Deus chamou a luz de dia e a treva  chamou de noite. Houve uma tarde, houve uma manhã: O PRIMEIRO DIA (O grupo 1 ascende as suas velas).

2 – DEUS DISSE:  “Que haja um firmamento no meio das águas”. Deus fez o firmamento e separou as águas inferiores do firmamento das águas superiores. E assim aconteceu. Deus chamou o firmamento de céu. Houve uma tarde, houve uma manhã: SEGUNDO DIA ( O grupo 2 ascende as velas).

3 – DEUS DISSE: “Que as águas inferiores ao céu se juntem em um só lugar  e que apareça o continente”. Assim aconteceu. Deus chamou o continente de terra, chamou de mar o conjunto das  águas. Deus viu que isso era bom.  Deus disse: Que a terra se cubra de verdura, de erva que produza a sua semente e de árvores  frutíferas que, segundo a sua espécie, produzam sobre a terra frutos contendo em si sua semente”. Assim aconteceu. A terra produziu verdura, erva que produz a sua semente, segundo a sua espécie, e árvore que produzam frutos contendo em si a sua semente, segundo a sua espécie. Deus viu que isso era bom. Houve uma tarde, houve uma manhã: TERCEIRO DIA. (O grupo 3 ascende suas velas).

4 – DEUS DISSE: “Que haja luminares no firmamento do céu para separar o dia da noite, que eles sirvam de sinal tanto para as festas como par aos dias e anos, e que sirvam de luminares no firmamento do céu para iluminar a terra”. Assim aconteceu. Deus fez dois grandes luminares, o grande luminar  para presidir o dia e a noite e separar a luz da treva. Deus viu  que isso era bom. Houve uma tarde, houve uma manhã: QUARTO DIA. ( O grupo 4 ascende as suas velas).

5 – DEUS DISSE: “Que as águas pululem de  seres vivos e que o pássaro voe acima da terra em face do firmamento do céu”. Deus criou os grandes monstros marinhos e todos os pequenos seres vivos  os quais  pululem as águas segundo a sua espécie, e todo pássaro alado segundo a sua espécie. Deus viu que isso era bom. Deus os abençoou dizendo: “sede fecundos e enchei as águas dos mares, e que os pássaros proliferam sobre  a terra”. Houve uma tarde, houve uma manhã:  QUINTO DIA (O grupo 5 ascende suas velas).

6 – DEUS DISSE: “Façamos o homem a nossa imagem, segundo a nossa  semelhança e que submeta os peixes do mar, os pássaros do céu, os animais grandes, toda a terra e todos os animais pequenos que rastejam sobre a terra”.
Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele criou-os, macho e fêmea.
Deus os abençoe e lhe disse: “sede fecundos e enchei a terra e dominai-a. Submetei os peixes do mar, os pássaros do céu e todo animal que rasteja sobre a terra”.
Deus disse: “Eu vos dou toda erva que produz a semente sobre a superfície da terra e toda a árvore cujo fruto sua semente, tal será o vosso alimento”. A todo animal da terra, a todo pássaro do céu, a tudo que rasteja sobre a terra e que tem sopro de vida, eu dou como alimento toda erva que amadurece. Assim aconteceu. Deus viu tudo que havia feito. Eis que era muito bom. Houve uma tarde, houve uma manhã: SEXTO DIA. (O grupo 6 ascende suas velas).

RITO DA ESCURIDÃO
Celebrante:  O amor de Deus na criação, é podado e sufocado pelo egoísmo do homem. É a história do pecado na história. Vamos agora representar a participação de cada pessoa na ruptura com o plano de Deus, do mesmo modo que representamos um dia da criação, agora, tentaremos vivenciar um dia de destruição. Mergulhemos nesta realidade de pecado que destrói e sufoca o amor de Deus. À medida que forem lidos os dias de Antigênesis, as pessoas do número do dia mencionado  apagarão as suas velas, como sinal de  ruptura com Deus e com os homens. Serão trevas do egoísmo entrando na história e na nossa vida.

Leitor 2 – Leitura do anti-gênesis:
Perto do fim dos tempos o homem  quis viver só, longe do Deus que o criou. Assumiu-se como absoluto e senhor da terra. A terra era bela e fértil, a luz brilhava nas montanhas e nos mares. A terra estava cheia de vida, o azul do céu  resplandecia, o ar era puro.

1 – DISSE ENTÃO O HOMEM: “Dividimos o céu e a terra: Que os homens possuem todo poder sobre o céu  e os outros sobre a terra. Que a ganância de possuir mais da origem a discórdia  e a luta fratricidas e, assim, o sangue humano seja derramado sobre a terra”. E assim foi. ESSA FOI A PRIMNEIRA NOITE ANTES DO FIM. ( O grupo 1 apaga as velas ).

2 – O HOMEM DISSE:  “Tomemos o céu: que ele seja cinzento, cheio de fumaça e gases venenosos e que o ar seja poluído. Lancemos nele aviões,  foguetes e bombas inteligentes”. E assim se fez. O homem achou que assim era melhor. As pessoas começaram a levar consigo máscaras anti-gás, FOI A SEGUNDA NOITE ANTES DO FIM. (O grupo 2 apaga as velas).

3 – O HOMEM DISSE: “Que as águas sobre a face da terra se encham de navios, de produtos químicos, de esgotos e de lixos das cidades. Que naveguemos poluição,  no fundo dos oceanos, submarinos atômicos, capazes de poluir e destruir povos sobre a terra”. E o homem afirmou: “acabamos com o verde das florestas. Coloquemos em seu lugar plantas que dêem mais lucro, prédios que acumulam riqueza, e asfalto, para que não nascem mais plantas”. e assim se fez. Os homens ficaram  encantados com os avanços conquistados.   FOI A TERCEIRA NOITE ANTES DO FIM. (O grupo 3 apaga suas velas).

4 – O HOMEM DISSE: “Não nos importamos mais com o sol e com as estrelas e que a luz parca seu encanto. Façamos nós mesmos luzeiros e que sejam mais coloridos e que brilhem  nas  noites de nossas cidades.  E que bombas sejam lançadas ao céu  para fazer o mesmo clarão das noites de tempestade” e assim se fez. O homem viu tudo o que tinha feito e ficou orgulhoso de sua façanha. FOI A QUARTA NOITE ANTES DO FIM. ( O grupo 4 apaga suas velas).

5 – O HOMEM DISSE: “Tomemos todos os peixes das águas e os animais das florestas. Que a pesca seja permitida em todos os tempos, por esporte, necessidade ou crueldade. Joguemos petróleo, esgoto, lixo e venenos no mar e nos rios, para que assim os peixes morram envenenados e as praias fiquem  mal cheirosas e poluídas”. E disse ainda mais: “criemos um esporte entre os homens, para que possam matar as aves do céu, e que seja o vencedor aquele que mais aves conseguir abater”. E assim se fez. O homem viu que assim era melhor. FOI A QUINTA NOITE ANTES DO FIM. (O   grupo 5  apaga suas velas).

6 – DISSE O HOMEM: “Cacemos à vontade os animais das florestas, façamos tapetes, calçados e roupas de suas peles. E aqueles que ainda sobraram sejam trancados, domesticados, sirvam de lazer e experiência em laboratórios”. E, por fim, gritou sem pudor: “Façamos um grande deus à nossa  imagem e semelhança. Que ele abençoe tudo o que nós fizemos, esteja a serviço de nossas ideologias e projetos, sirva de acomodação para os pobres e marginalizados. E que esse deus se multiplique entre nossos  homens, tomando várias formas das pessoas. Que cada um possua o seu próprio deus, esteja o deus do lucro e da ganância, da técnica, da droga, do poder ou de prazer. Que esses deus dominem o homem e o façam cada vez mais egoísta”. E assim foi. FOI A SEXTA NOITE ANTES DO FIM. ( O grupo 6 apaga suas velas).

Celebrante: Na sétima noite, o homem ficou só, cansado e vazio. Não havia nada sobre a face da terra. Um frio um tremor o envolveram por toda a parte. Só havia ódio, discórdia e morte. No meio daquela solidão, quase infinita, cai a peste. Foi o fim do homem. Veio então, uma ventania ensurdecedora, arrasando o nada que havia ficado. Uma escuridão espantosa tomou conta de tudo. Era o caos...
Depois, muito tempo depois, se fez um silêncio encantador, uma brisa suave começou a passar. Era o Espírito de Deus pairando novamente sobre a terra.

(Motivar que cada um partilhe seus  sentimentos em forma de oração... perdão, louvor...)
Leitor 3 – Leitura de Isaías 9, 1 – 6.

Canto

As transformações no capitalismo e no mundo do trabalho

César Sanson, CEPAT

“Trinta anos atrás, em muitas fábricas, havia cartazes que intimavam: ‘Silêncio, aqui se trabalha!’. A principal novidade do pós-fordismo consiste em ter colocado a linguagem a trabalhar. Hoje, em algumas fábricas, podemos fixar dignamente cartazes invertidos aos de outros tempos: ‘Aqui se trabalha. Fale!”

Essa descrição de Paolo Virno define o caráter da radical mudança que se processou no mundo do trabalho nos últimos anos. O capital adotou uma cruzada contra o caráter monológico do trabalho. O que antes era ocultado agora precisa vir à superfície, o que não era valorizado, enquanto ação individual ou grupal para melhorar o processo produtivo, tornou-se central na nova forma de organizar o trabalho.
Na sociedade industrial, o trabalhador é encerrado em uma “jaula de ferro”, expressão de Weber, reapropriada por Richard Sennett. As suas características pessoais são desconsideradas, o seu conhecimento é desqualificado, o seu saber não é reconhecido e a sua subjetividade é dispensada. O trabalhador entra no processo produtivo como um “acessório da oficina capitalista”, descreve Marx. Na fábrica, ele se torna um numerário, sem rosto e sem fruição a ser manifestada. A sua energia física é consumida, o seu tempo de trabalho é roubado e o seu conhecimento, quando exigido, é usurpado. Coisificado e assujeitado, assim é o trabalhador da sociedade industrial. Assim como a mercadoria, produto do trabalho fordista é estandardizada, o trabalhador também é estandardizado.
Em contraponto ao trabalhador calado do modo de produção fordista, a sociedade pós-industrial demanda um trabalhador comunicativo. Agora se pede ao trabalhador que se disponha a inventar e a produzir novos procedimentos cooperativos, que colabore, que se explicite, apresente idéias. ‘É a alma do operário que deve descer na oficina’, afirmam Lazzarato e Negri acerca da nova exigência do capital. É a sua personalidade, a sua subjetividade que deve ser organizada e comandada.
Assiste-se a uma ruptura da concepção de trabalho da sociedade industrial. Na sociedade fordista, o trabalho insere-se na esfera da reprodução, está preconcebido e atende a um padrão tecnológico e organizacional estruturado de antemão. As tarefas são rotineiras, repetitivas, e podem ser pré-codificadas e programadas para que as máquinas as executem. A relação homem/máquina é despojada de qualquer enriquecimento. Trata-se de uma relação racionalizada por procedimentos que manifestam uma interação mecanicista. O saber operário não é reconhecido, ou apenas parcialmente, por encontrar-se circunscrito nos padrões pré-estabelecidos pela máquina. Há um limite interposto pelo ‘saber morto’ objetivado na máquina que bloqueia a possibilidade do ‘saber vivo’ do operário. Na sociedade industrial da manufatura e do fordismo, a relação com a produção faz-se silenciosamente, pois a máquina-ferramenta não permite uma interação colaborativa.
Agora, com a introdução das Novas Tecnologias da Comunicação e Informação, as mudanças são significativas. Cada vez mais a valorização do trabalho repousa sobre o conhecimento, sobre a capacidade de interação com a máquina, superando a mera subordinação. Trata-se do que Antonella Corsani denomina de “sistema de produção de conhecimentos por conhecimentos”. É nesse sentido que a forma de trabalhar associada ao pós-fordismo é vista como a passagem de uma lógica da reprodução para uma lógica da inovação, de um regime de repetição a um regime de invenção.
Se na sociedade industrial há rigidez, uniformidade e padronização no modo produtivo e demanda-se um trabalhador especializado, fragmentado, parcelizado e não qualificado, na sociedade pós-industrial, pede-se um trabalhador comunicativo, participativo, polivalente, flexível, capaz de realizar múltiplas tarefas que, com o seu conhecimento enriqueça o processo produtivo e faça da comunicação com os outros um recurso permanente.
A sociedade industrial cindiu o trabalhador, o seu todo corpóreo, mente e corpo, e reduziu-o a uma máquina produtiva. O modelo fordista do trabalho é exemplar na demonstração da cisão do todo corpóreo do trabalhador, onde a inteligibilidade, a qualidade intelectual, é um recurso pouco aproveitado. Houve uma separação entre o trabalho intelectual e o trabalho manual, entre o trabalho de criação e o trabalho de consecução.
Hoje, essa concepção de produção está sendo superada. O conceito de força de trabalho, na sociedade pós-industrial, retoma a essência do seu significado, ou seja, a compreensão de que a força de trabalho é um todo corpóreo, reúne todas as faculdades, da força física à competência linguística.
Na nova forma de se organizar o trabalho e ativá-lo, busca-se a reconquista da parte do trabalho vivo que o desenvolvimento histórico do capitalismo tentou aniquilar. Ao capital da sociedade pós-industrial interessa a mercadoria do corpo não apenas como unidade biológica, mas como corporalidadade social, ou seja, aquilo que ele reúne em si, como parte integrante de uma capacidade produtiva maior, que se reúne no intelect general – o cérebro social de que fala Marx. São o conhecimento, a competência linguística, a cooperação singular que agregam valor ao processo produtivo. Como destaca Carlo Vercellone, “a maior transformação que, após a crise do fordismo, marca uma saída do capitalismo industrial, encontra-se precisamente no forte retorno da dimensão cognitiva e intelectual do trabalho”.
Mais do que nunca, o capital procura reconciliar o que um dia foi separado, tornar único o todo do trabalhador, reunir as suas aptidões físicas com a sua “vida da mente” como diz Paolo Virno. A “vida da mente” é cada vez mais solicitada no envolvimento com o cotidiano do chão de fábrica.
Em síntese, a sociedade industrial, taylorista-fordista, mobilizou massas enormes de trabalhadores e os empurrou para uma divisão técnica do trabalho que lhes reservava tarefas simples e repetitivas. O operário fordista é duplamente massificado, pela reincidência diuturna a que é submetido num processo produtivo estandardizado e pela negação de suas características pessoais, subjetivas.
Essa sociedade, entretanto, está em reviravolta, embora ainda homogênea, a essência da sua forma de organizar a produção é empurrada cada vez mais para a periferia do núcleo propulsor do novo capitalismo.
Defendemos a ideia que estamos transitando da sociedade industrial, fordista, para a sociedade pós-industrial, pós-fordista, e o trabalho, o sujeito do trabalho e a subjetividade manifesta no trabalho passam por mutações significativas. Assim como a Revolução Industrial foi o gérmen de um novo tempo, a sociedade pós-industrial anuncia uma tendência que tende a tornar-se hegemônica.
A marca distintiva, que caracteriza a sociedade pós-industrial ou pós-fordista, é a emergência da economia do imaterial e do trabalho imaterial. O trabalho imaterial ainda não se apresenta hegemônico quantitativamente, mas já o é qualitativamente. Poder-se-ia afirmar que se encontra hoje em posição semelhante à que estava o trabalho industrial há 150 anos Na sociedade pós-industrial, o conhecimento, a comunicação e a cooperação, ativados sobretudo pela Revolução Informacional, mas não apenas, passam a ser considerados os principais recursos demandados ao sujeito do trabalho, algo que na sociedade industrial era renegado.
A nova forma de organizar o trabalho colocou no centro do processo produtivo os recursos imateriais. A lógica do capital é apropriar-se desses recursos que se desenvolvem como qualidades subjetivas e subordiná-las ao seu projeto. O caráter “revolucionário” do trabalho imaterial, segundo Michel Hardt, Toni Negri, Paolo Virno e André Gorz, entre outros, repousa no fato de que as formas centrais de cooperação produtiva já não são criadas apenas pelo capitalista como parte do projeto para organizar o trabalho, mas, emergem das energias produtivas do próprio trabalho, ou seja, o sujeito do trabalho joga um papel decisivo como parte integrante da própria forma de organizar o trabalho.
A principal fonte do valor reside agora na criatividade, na polivalência e na força de invenção dos assalariados e não apenas no capital fixo, a maquinaria. A capacidade de interação, de iniciativa, de disponibilidade, de ativação, é requerente no modo de ser no trabalho das empresas, e o trabalhador não deve se contentar em reproduzir as capacidades predeterminadas e prescritas para o posto de trabalho que ocupa, mas sim desenvolver-se como um produto que continua ele mesmo a se produzir.
Na nova forma de organizar o trabalho são solicitados, aos trabalhadores, os requisitos da mobilidade, da flexibilidade, da adaptabilidade, a capacidade de interação, de disposição lingüística, o talento comunicativo. O trabalho requer um engajamento total do trabalhador. Pode-se falar em uma prescrição da subjetividade orientada pela mobilização e engajamento de todas as faculdades e os recursos que podem ser extraídos e oferecidos pelo sujeito do trabalho.
Se na sociedade industrial, o trabalho situa-se fora do operário e encerrada a jornada, o trabalho fica na fábrica; agora, o trabalho subsume toda a pessoa, invade todo o seu ser, não é mais exterior, mas foi interiorizado, é constitutivo ao operário. O tempo do não-trabalho confunde-se com o tempo do trabalho, ocorrendo uma mudança na relação do sujeito com a produção e o seu próprio tempo.
É nesta perspectiva que se pode falar que o trabalho imaterial se contrapõe à teoria marxiana da mais-valia ou, antes de tudo, exige uma atualização de sua teoria. A novidade está relacionada aos parâmetros utilizados para definir o valor de uma mercadoria. Na teoria marxiana, o que determina o valor de uma mercadoria é a quantidade de trabalho despendido para produzi-la, mais especificamente, a média do tempo utilizado de acordo com o grau de desenvolvimento das forças produtivas. No trabalho imaterial, o tempo de trabalho já não é necessariamente medido, pois tempo de trabalho e tempo de não trabalho confundem-se, sua linha divisória é tênue.
O plus do trabalhador ativado por seus recursos imateriais é considerado central no novo modo produtivo e essencial na organização da força de trabalho. O modo produtivo pós-industrial requer o engajamento do trabalhador, que ele hipoteque sua subjetividade no trabalho. Agora, já não basta um trabalhador convencional que cumpra apenas a sua jornada de trabalho e ponto final. O que se exige é um trabalhador que “vista a camisa” da empresa, que a incorpore em sua vida, e a ela dedique o melhor de suas energias físicas e intelectuais. Como diz Danièle Linhart, “os administradores pedem para seus funcionários serem os militantes incondicionais da empresa, mostrando lealdade, disponibilidade, além de competência”.
Na sociedade pós-industrial, assiste-se a uma transformação do sujeito na sua relação com o trabalho. Sob a hegemonia qualitativa do trabalho imaterial, tendo em sua base o conhecimento, a comunicação e a cooperação, emerge uma outra subjetividade, que ao mesmo tempo em que é requerida pelo capital, apresenta traços de certa autonomia. O valor do trabalho, na sociedade pós-industrial, apresenta-se cada vez mais de forma biopolítica. O capital investe cada vez mais no indivíduo e não no coletivo, investe na crescente individualização do trabalho, explora as capacidades cognitivas de cada um, e o singular assume o caráter do diferencial nos ganhos de produtividade.
Por isso se afirma que o capital investe na bios – na vida – do trabalhador e, também por isso, se afirma que a resposta à dominação pode ser biopolítica no sentido foucaultiano, ou seja, as mesmas capacidades ativadas pelo capital podem voltar-se contra ele. Esclarecendo: se por um lado é na bios – na vida do trabalhador - que o capital investe procurando ativar os recursos imateriais próprios de cada operário na perspectiva que esses recursos sejam disponibilizados ao capital, por outro, eles também assumem um caráter permanente de produção de si, isto é, essa mesma subjetividade prescrita pelo capital, também resulta em “produção de si”, e nesse sentido é portadora de elementos que podem abrir caminhos para a transformação do próprio sujeito do trabalho.
Quer-se dizer que a nova forma de organizar o trabalho abre a possibilidade da conquista de uma autonomia maior, uma vez que os recursos imateriais, disponibilizados no processo produtivo são também ganhos e aquisição dos próprios trabalhadores. Como destaca Negri, o valor do trabalho, na sociedade pós-industrial, apresenta-se de forma biopolítica, no sentido de que “viver e produzir tornaram-se uma só coisa, e o tempo de vida e o da produção se hibridaram sempre mais”.
Defende-se aqui a ideia de que a forma de organizar o trabalho, na sociedade pós-industrial/pós-fordista, traz dentro de si o antagonismo que pode fundar as novas lutas sociais. O trabalhador  pós-fordista, ao entrar no processo de produção, não se apresenta apenas como possuidor de sua força de trabalho hetero-produzida – ou seja, capacidades predeterminadas impostas pelo empregador –, mas como um produto que continua, ele mesmo, a se produzir.
A produção de capital é hoje em dia também produção da vida social. Na medida em que o capital instiga o trabalhador a disponibilizar todos os seus recursos (linguísticos, de comunicação, de interação, de cooperação) com o objetivo de subordiná-los à sua lógica, tem-se também um processo inverso. Esses mesmos recursos servem aos trabalhadores para o seu crescimento pessoal e para o enriquecimento de suas relações sociais, logo, assim, como servem ao capital, criam mecanismos de resistência a ele.
Por outro lado, são os recursos imateriais – o conhecimento, a comunicação e a cooperação, que dão conteúdo ao comum, isto é, a multiplicidade de atividades sempre mais cooperativas dentro do processo de produção. Como afirmam Negri e Hardt, “o aspecto central do paradigma da produção imaterial que precisamos apreender é a sua relação íntima com a cooperação, a colaboração e a comunicação – em suma, sua fundamentação no comum”. O comum seria aquilo que pode ser identificado em cada trabalhador, mas também no conjunto deles, aquilo que é partilhado.

Sugestões bibliográficas para aprofundar o tema do trabalho:
BOLTANSKI, Luc; CHIAPELO, Éve. O novo espírito do capitalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
CASTELLS, Manuel (1999). A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra.
CNBB (1999). Sem trabalho... por quê? São Paulo: Salesiana Dom Bosco.
COCCO, Giuseppe; GALVÃO, Alexander Patez; SILVA, Gerardo (orgs.). Capitalismo cognitivo: trabalho, redes e inovação. Rio de Janeiro: DP&A Editora.
CORIAT, Benjamin (1994). Pensar pelo avesso. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ;Revan.
CORSANI, Antonella (2003). Elementos de uma ruptura: a hipótese do capitalismo cognitivo. In: COCCO, Giuseppe; GALVÃO, Alexander Patez; SILVA, Gerardo (orgs.). Capitalismo cognitivo: trabalho, redes e inovação. Rio de Janeiro: DP&A Editora.
______ (2003). Le capitalisme cognitif: les impasses de l’économie politique. In: VERCELLONE, Carlo (dir.). Sommes-nous sortis du capitalisme industriel? Paris: La Dispute.
GODBOUT, Jacques (1999). O espírito da dádiva. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas.
GORZ, André (2004). Misérias do presente, riqueza do possível. São Paulo: Annablume.
______ (2005). O imaterial. Conhecimento, valor e capital. São Paulo: Annablume.
______ (2003). ‘A produção material será daqui para frente subordinada à produção imaterial’. CEPAT Informa n. 101, set.
KLEIN, Naomi (2002). Sem Logo: a tirania das marcas em um planeta vendido. 2. ed. Rio de Janeiro: Record.
______ (2008). A doutrina do choque: a ascensão do capitalismo de desastre. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
LAZZARATO, Maurizio; NEGRI, Antonio (2001). Trabalho imaterial. Rio de Janeiro: DP&A Editora.
LINHART, Danièle (2007). A desmedida do capital. São Paulo: Boitempo.
MARAZZI, Christian (2009). O lugar das meias. Rio de Janeiro: Civ. Brasileira.
MARTINS, Paulo Henrique (org.) (2002). A dádiva entre os modernos. Petrópolis, RJ: Vozes.
MOULIER-BOUTANG, Iann (2007). A bioprodução. “O capitalismo cognitivo produz conhecimentos por meio de conhecimento e vida por meio de vida”. Revista IHU On-Line, n. 216, 23 abr.
NEGRI, Antonio; HARDT, Michael (2001) Império. Rio de Janeiro: Record.
______ (2005). Multidão. Rio de Janeiro: Record.
POCHMANN, Marcio (2001). A década dos mitos. São Paulo: Contexto.
POLANYI, Karl (2000). A grande transformação. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus.
RIFKIN, Jeremy (2001). A era do acesso. São Paulo: Makron Books.
SENNETT, Richard (1999). A corrosão do caráter. São Paulo: Record.
TOURAINE, Alain (2006). Um novo paradigma. Petrópolis, RJ: Vozes.
VERCELLONE, Carlo (2007). “É na reversão das relações de saber e poder que se encontra o principal fator da passagem do capitalismo industrial ao capitalismo cognitivo”. Revista IHU On-Line, n. 216, 23 abr.
VIRNO, Paolo (2008). Virtuosismo e revolução. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

16 de julho

Neste sábado, dia 16, está ocorrendo a 5ª etapa da Escola de Formação Fé, Política e Trabalho 2011 – ano 8, com a assessoria do professor Dr. André Langer do CEPAT – Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores, de Curitiba – PR.


André Langer está tratando do tema “A crise contemporânea e as metamorfoses no mundo do trabalho”.


Fotos: Fernanda Seibel

14/07/2011

5ª etapa Escola Fé, Política e Trabalho :: 16 e 17 de julho

Nos dias 16 e 17 de julho de 2011, realiza-se a 5ª etapa da Escola de Formação Fé, Política e Trabalho 2011 – ano 8, uma iniciativa da Diocese de Caxias do Sul, através da Cáritas, com a parceria do Instituto Humanitas-Unisinos.

 

O tema desta etapa será: “A crise contemporânea e as metamorfoses no mundo do trabalho” – A globalização econômica e suas repercussões: desemprego, precarização, terceirização, flexibilização, desregulamentação das leis. Impasses e desafios do novo sindicalismo no Brasil. Reforma trabalhista. Análise de conjuntura.

 

Para trabalhar a temática da questão do “trabalho” contaremos com a assessoria do professor Dr. André Langer do CEPAT – Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores, de Curitiba – PR.

 

Os objetivos específicos desta etapa são:

a. Compreender  o agravamento da crise, sistêmica e estrutural, do capital globalizado e seus efeitos no mundo do trabalho;

b. Analisar o processo de descoletivização e a individualização conseqüência do desenvolvimento tecnológico;

c. Conhecer e aprofundar os efeitos e as conseqüências de uma ‘sociedade do pleno emprego’ para uma ‘sociedade do trabalho pleno’.

d.  Analisar as principais características da conjuntura atual.

 

Esta escola é destinada à lideranças comunitárias, sociais, políticas e sindicais; agentes de pastoral, professores, funcionários públicos, vereadores, estudantes e lideranças de organizações populares.

 

São 10 etapas durante os meses de março a dezembro, sempre no terceiro final de cada mês, totalizando 170 horas/aulas, com certificado da UNISINOS.

 

Esta escola tem como objetivo:

Contribuir para a formação e articulação de lideranças nos vários âmbitos de atuação da realidade, gestando a criação de uma mentalidade nova, mais de acordo com o Ensino Social da Igreja, que permita um sentir e agir cristão comprometido e responsável pela construção de uma sociedade solidária.

 

Diretrizes da Escola:

1.- Compromisso com a autenticidade da prática da fé;

2.- Compromisso com os valores éticos e evangélicos tais como a vida, a solidariedade, a justiça, a fraternidade e a coerência;

3.- Compromisso com a construção de uma sociedade democrática, culturalmente plural, economicamente justa, ecologicamente sustentável, socialmente solidária e eclesialmente de comunhão e participação;

4.- Compromisso de favorecer um espaço e mentalidade que dê condições de se relacionar com o diferente, fazendo a experiência da convivência, do diálogo e da tolerância para um relacionamento aberto ao pluralismo.

5.- Compromisso e ousadia de buscar saídas simples e coerentes para os problemas mais prementes do povo, principalmente os mais empobrecidos, apostando em caminhos novos.

6.- Compromisso de que os participantes, a partir de uma metodologia participativa, possam conhecer e interpretar cada vez melhor a realidade local para um agir mais consciente.

7.- Compromisso de proporcionar um acompanhamento sistemático e integral às pessoas que assumem conscientemente sua fé, atuando nas várias instâncias da realidade.

 

Sobre o assessor - Prof. Dr. André Langer:

- É pesquisador do CEPAT (Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores) com sede em Curitiba, PR, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos – IHU;

- Formado em filosofia, com mestrado em ciências sociais pela UNISINOS.

- É doutor, quando defendeu a tese de doutorado na Universidade Federal do Paraná (UFPR) intitulada: Mutações no mundo do trabalho - A concepção de trabalho de jovens pobres.

 

A programação completa da Escola 2011 e maiores informações podem ser encontradas nos blogues: http://www.fepoliticaetrabalho.blogspot.com/ e  http://www.caritascaxias.blogspot.com, na página da diocese: www.diocesedecaxias.org.br, no endereço eletrônico: caritascaxias@yahoo.com.br ou no telefone (54) 3211-5032.

 

Pe. Gilnei Fronza

P/ Equipe de Coordenação da Escola